sábado, 30 de maio de 2009

Espiã de quinta.

Abri a janela de maneira que sua abetura fosse tão minúscula que, se houvesse alguém pelo lado de dentro, com certeza não veria. E então comecei a obsevar.

Era um lugar bonito, aparentemente organizado. Com tudo no seu devido lugar. Flores pelos cantos, cheiro de lavanda pelo ar. Havia muitas, muitas pessoas mas estas se portavam de um modo que não tiravam a beleza nem o brilhantismo daquele espaço tão singular. Era a primeira vez que eu espiava aquele recinto. Comecei a reparar por algum tempo.

Observei que pela manhã sempre apareciam 2 adultos e uma criança. Um homem, uma mulher e um menino. Sempre felizes. Pelo decorrer do dia apareciam alguns jovens, rapazes e moças, alegres e falantes. Vez ou outra aparecia um rapaz que, pela sua forma tão galante, aparentava ser especial. À noite, antes que se apagassem as luzes, mais uma vez o homem, a mulher e o menino apareciam. Entretanto, com eles vinham também poucos dos jovens que surgiram pelo longo do dia, mais alguns outros que, ao que me parece, eram da família. Fui embora. Eu tinha afazeres e eu não poderia ficar ali espiando pelo resto da vida.

Após um longo tempo sem nunca mais ter ido àquele local tão peculiar, veio a mim uma vontade imensa e uma curiosidade sem fronteiras: resolvi voltar.

A janela dessa vez estava quebrada e, uma surpresa: o recinto estava uma bagunça. Algumas luzes quebradas, pouca gente andava por lá. Às vezes aconteciam algumas discussões, só uma coisa não mudava: o homem, a mulher, o menino e alguns poucos da família sempre visitavam à noite e iam embora ao apagar do restante das poucas luzes.

E vi que pouco a pouco algumas lâmpadas iam queimando e menos gente ia aparecendo por lá... O lugar estava ficando deplorável, cada vez mais desorganizado. O pior: sempre vinha alguém disposto a ajudar a bagunçá-lo.

Perceberam que eu estava lá à espreita, observando. A dona do lugar indagou-me, perguntando por que eu só permanecia distante e não entrava, pois ela estava precisando de uma mãozinha. Cheguei a conclusão, porém, que não iria adentrar e interferir. Iria esperar alguém pra me acompanhar, entrar lá comigo - e ajudar a organizar toda aquela confusão.

Triste mania a minha de viver espionando meu coração.


"Sem meu coração, o que posso fazer?"
Mount Wroclai, por Beirut.

"Do you need anybody? I need somebody to love."
With a little help from my friends
, por The Beatles.

"Ela veste branco quando é sexta feira,
com os pés descalços e os cabelos soltos..."

Diabo, por Manacá.

quarta-feira, 27 de maio de 2009

"É preciso amor pra poder pulsar."

Sabe, fazer um escrito de amor é fácil.
Não é necessário nem estar apaixonado. Pode estar só mesmo, na solidão 'braba'.

Basta pensar em algo belo como uma brisa suave percorrendo o seu corpo, grama recém cortada,
uma tarde de domingo chuvosa e você lá, assistindo um filme romântico do qual todos já sabem o fim.

Ou ainda pensar numa praia semideserta com um lindo sol e um lindo mar com lindas ondas. Ouvir uma música que o deixe leve e que o faça se sentir bem. Pode também pensar num campo com flores saltando do solo, chegando ao joelho, e você correndo por entre elas
- e cheiro de primavera. Imaginar uma tarde qualquer onde não se tenha nada pra fazer e você queira fazer nada.

É simples, basta pensar em algo assim bonito e agradável.
E aí o amor nasce bem de dentro de você.
E, assim, você escreve um escrito ou qualquer outra coisa de amor.

Fazer um escrito de amor é fácil.
Difícil é fazer um escrito com amor.

"Moça, para onde seu amor foi? Eu estava procurando mas não acho em nenhum lugar.
Eles sempre oferecem quando há amor por perto.
Mas, quando se tem pouco de algo, não há onde encontrar."
No buses, por
Arctic Monkeys
E os meus olhos de ameixa não descansam mais.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Foi, é, será?

Há tempos eu vi uma menininha indo à escola. Mochila nas costas, meias ao meio das perninhas finas, cabelo mal penteado e preso. Lá ia, ao longe, caminhando sob um sol matinal. Às sete da manhã, estava ela, como todos os dias: sentando na primeira fila da sala, escorrendo ao longo da manhã. Meio dia, hora de ir, hora do almoço. Não tem papai ou mamãe pra pegar na escola, mas tudo bem, a vida a ensinou a andar só por aí. À tarde não vinham muitas surpresas, a menina estudava um pouco, desenhava um pouco, escrevia um pouco, tocava seu teclado Casio...

Era um sábado e eu vi a menina. Corre pra lá, pega daqui, esconde de lá: era o dia da menina brincar. Cai aqui, buá ali, e mais uma cicatriz para guardar. Hora do banho. Beijo papai, abraço mamãe: boa noite. E assim foi a vida da menina, foi desse jeito que ela foi crescendo.

Há dois anos eu vi uma mocinha. Formosinha, sorridente, rodeada de coleguinhas. "Pai, mãe, vou sair!". Violão nas costas, óculos escuros no rosto, boina na cabeça. Esperta, passou por média. Vida de colegial.

Há meses eu vi uma garota. Séria, andava tranquila e compassadamente. Cadernos nos braços, sempre com bolsa do lado. Não andava só, mas com pouca gente. Uma amiga aqui, dois ou três colegas ali. A garota seguia todos os dias o mesmo caminho. À noite, o mesmo telefonema: "O dia foi bom, eu estudei. Estou com saudades." Era o pai, era a mãe.

Ontem eu vi uma moça. Uma moça já formada. Quase mulher, se não fosse pela minha falta de percepção, ou por falta de noção mesmo. Lá estava ela: pegar ônibus, faculdade, bolsa de lado, caderno na mão e olhos atentos ao furor da cidade. Saiu cedo de casa, chegou tarde. Em sua habitação, só uma luz acesa. Aparentava feliz e certa do que fazia. Expressão serena, passos rápidos e determinados. Cabelos soltos e ao vento. Óculos-escuros, por ora.

A quase mulher, a moça, era a garota. A garota era a mocinha. A mocinha era a menina, que era a menininha.

Sou menina, sou mulher.
Hoje eu me vi no espelho.

"Às vezes, o que eu vejo quase ninguém vê." - Quase Sem Querer, Legião Urbana.

"Há dias em que eu estou um lixo, me sentindo um lixo e com vontade de enfiar a cabeça numa lata de lixo. Hoje é um desses dias."


P.S. A segunda citação é minha. =)



"If you don't walk, might as well crawl..." - La llorona, por Beirut.

terça-feira, 19 de maio de 2009

Crendo, vendo e escrevendo.

Não sou poeta, compositora, muito menos cronista. Mas, apesar de não ser uma pessoa definida no mundo das letras (não mesmo), eu me considero uma escritora.

Desde pequena eu sou. Lembro da 2ª ou 3ª série quando escrevi o meu primeiro livro: uma estorinha discorrida em 34 páginas, daquelas bem características de uma menininha permeando seus 7 anos. É notável também um aspecto marcante no livreto: a incontável presença de uma expressão bastante comum: "aí".
Falava sobre um homem muito rico que tinha tudo aos seus pés. Também sobre sua vida e os privilégios de uma pessoa que tem dinheiro. Num belo dia, ou melhor, trágico dia, ele morrera. E bla, bla, bla.

E agora olho pra mim, no que me tornei. Não escrevo mais aquelas estorinhas, nem tenho mais a coerência dos meus tempos de meninice. Antes, tudo seguia na linha, os assuntos eram quase os mesmos.

O que é engraçado de perceber é que eu cresci assim: atenta, pensando que de tudo eu poderia tirar algo para escrever. Das folhas, do céu, das estrelas, das conversas, do vento, das pessoas, dos sorrisos, das lágrimas. Cresci pensando nas emoções que cada detalhe do meu cotidiano poderia e pode me passar.

Atualmente eu escrevo o que sinto. Meio sem nexo, sem lógica. Hoje escrevo sobre dor, amanhã sobre o vento. Assim vou. E é incrível, mas os pensamentos vindos nas horas mais inusitadas são os que me deixam mais empolgada, me fazendo buscar desesperadamente por um local onde possa guardá-los. Não tem hora, dia, nem lugar. No ônibus, no banho, num restaurante, numa conversa jogada fora, ou até mesmo no meio de uma aula de "Matemática Discreta para Computação".

Falando sério, nem sei porque escrevi sobre isso. Mas, ou eu escrevia, ou me sentiria muitíssimo angustiada. Acontece. De uns dias pra cá eu venho falando muito da minha vida. Prometo que vou parar e voltar aos textos menos desestimulantes.

"Às vezes eu percebo que não importa o que você faz,
com quem você anda,
o que come, ou até o que ouve.
O que realmente conta são seus projetos,
suas crenças, seus valores.
E principalmente os seus sonhos. "
Vanessa Gomes

sábado, 16 de maio de 2009

4 pontos por 5 ângulos.

5 coisas que eu descobri antes de morrer
1- Nós mulheres não somos complicadas. Só não somos totalmente passíveis de entendimento.
2- Há homens que entendem mulheres. Há os que amam.
3- Quase tudo na vida é uma questão de apostas: ou você aposta na vida, ou espera que alguém aposte em você.
4- Ninguém nasceu pra ser sozinho. Todo mundo tem que pelo menos suportar conviver consigo mesmo.
5- Prefiro carne branca.

5 coisas que eu já fiz antes de morrer
1- Já atrasei o relógio para dizer aos meus pais:
"Como assim, já é meia noite? No meu ainda são 10:20."
2- Já fingi que estava estudando, quando, na verdade, estava desenhando, escrevendo ou fazendo nada mesmo.
3- Já menti pra minha mãe e desfiz as mentiras que a contei.
4- Fui a um show de rock.
5- Já liguei pra um cara só pra ouvir sua voz.

5 coisas que já me aconteceram (antes de morrer, óbvio)
1- Caí na frente de várias pessoas.
2- Fui confundida com a prima do fulano.
3- Já me ignoraram 'pakas'!
4- Já ganhei presentes de um amigo que mora a mais de 5000km de distância.
5- Já toquei mais de 3 instrumentos musicais.

5 coisas que farei antes de morrer
1- Viajar pela Europa. (Sim, por graande parte de Europa).
2- Viajar pela América Latina, de carro. E ir nos shows das bandas latinas que amo.
3- Conhecer Austrália, Dubai, China, Japão, África do Sul, Hawai, EUA, Canadá.
4- Casar, ter 3 filhos.
5- Fazer mais um monte de coisas e conhecer mais um monte de lugares que não cabem nessa lista.


"Uma pessoa é essencialmente formada por 3 elementos:
fé, amor e coragem.

Mas sem sonhos não há fé, amor ou coragem que sustente um ser humano."
Vanessa Gomes


terça-feira, 12 de maio de 2009

Mais uma dose de esquecimento. (ou "Não tinha título melhor").

Vou contar um segredo.
Ando cansada.

Fisicamente, emocionalmente, mentalmente. Não sei o que é. Na verdade, suponho o que seja. Talvez sejam as noites mal dormidas - mas não por falta de sono, e sim por falta de tempo.

Pode ser também que sejam as palavras. Acho que sim. São elas as culpadas: ficam rodopiando pela minha cabeça e não se dão conta que às vezes são pesadas demais para este coraçãozinho aqui. Junta tudo e vem a fadiga.

Um bom café pode me dá força por mais alguns instantes. Ou então um energético, misturado com um refrigerante- nada saudável, mas na situação em que me encontro essa é uma alternativa viável. Acho que preciso de algo mais para me sentir revitalizada. Não, não. Uma boa noite de sono não resolve. Já tentei , mas não é suficiente. Começo a não aguentar mais o peso das palavras. Que venha a nova estação. E com ela minha cura.
"E eu vou perder meu tempo em apostas. E em um ano, um ano ou mais,
Isto vai deslizar para o mar.
Bem, já faz muito tempo, muito tempo..."

Nantes - Beirut. (por Zach Condon)
"Mandei plantar folhas de sonho no jardim do solar.
As folhas sabem procurar pelo sol.
E as raízes, procurar, procurar..."
Panis et circenses - Caetano e Gil.

domingo, 10 de maio de 2009

"Chove e chove."

Está chovendo forte.
Juntando o clima e a suave brisa gerada pelo meu ventilador, que está ligado "no mais fraco", sinto até um friozinho.

Adicionando ao fato de eu estar nessa tarde chuvosa completamente só, dá até vontade de parar de fazer qualquer coisa e esquecer do fato que tenho que estudar Cálculo para a prova de amanhã.
E ir assistir uma série ou qualquer outra coisa, desde que eu fique deitada - curtindo meu "pseudofrio". Esquecer das responsabilidades e pensar só na vida.
E rir do que assisto.
E dormir cedo.

Mas não posso. Não consigo.

Sabe, às vezes eu queria ser irresponsável.

"Se o meu corpo virasse sol,
Minha mente virasse sol.
Mas, só chove e chove.
Chove e chove."
Primeiros erros, por Capital Inicial.

"Llueve afuera,llueve además
Está desierta la ciudad...
(...)
Nubes, viento, miedo, lluvia,
Noches, grises, ni una luna:
Otro invierno de oscuridad."
Invierno, por "Reik".

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Réplica da solidão.

Amiga,

Sei que a minha presença às vezes te incomoda.
E sei também que mereço teus esculachos.
Mas releve, sou possessiva mesmo.

Foi assim que fui feita. Ser amiga, ser fiel.


Acaso eu já te traí?

Fiquei muito triste com tua carta
,
é verdade que até agora estou chorando graças à ela.

Tudo bem, confesso: eu sempre choro.

Mas meu choro é de consolo. E para que chores comigo.

Eu, que já te ouvi tanto, consolei, abracei.


Não vou embora.

Bati o pé, decidi por permanecer.

Terás que me aguentar por um tempinho ainda.

Até encontrares companhia melhor que eu.

Vai dizer agora que queres ficar só de tudo, até sem mim?

Seria demais para ti. Eu sei que seria.


Com carinho,
Solidão.

P.S.
Os CDs de música latina estão na estante, ao lado da impressora. Os risos, na prancha ao lado do armário; a autoestima, na varanda.

E o jantar está servido: Filé de solidão ao molho de lágrimas.
Vide: Carta para a solidão.
"Todo mundo é capaz de dominar uma dor, exceto quem a sente."
William Shakespeare
"Tudo, aliás, é a ponta de um mistério, inclusive os fatos.
Ou a ausência deles.
Duvida?
Quando nada acontece,
há um milagre que não estamos vendo.
"
-
"Infelicidade é uma questão de prefixo."
Guimarães Rosa

segunda-feira, 4 de maio de 2009

"O vento vai dizer..."

Só o vento dirá.
Quando ele resolver ventar e vir soprar aos meus ouvidos,
aí sim eu saberei o porquê disso tudo.

Porque o vento sempre foi um grande amigo meu.
E amigos nunca se vão para o sempre.
Nem pra sempre.

Eu só quero que ele volte,
venha passear uns dias aqui por essas bandas.
E quando ele vier, com certeza vai me ajudar.

Me dizer porque é que tudo está seguindo
conforme o inverso do esperado (e planejado).
E se não houver explicação,
pelo menos ele soprará sua suave brisa sobre mim.
"Às vezes ouço passar o vento;
e só de ouvir o vento passar,
vale a pena ter nascido."

Fernando Pessoa
"É meu troféu, é o que restou.
É o que me aquece sem me dar calor.
Se eu não tenho o meu amor,
Eu tenho a minha dor."
Marisa Monte / Arnaldo Antunes