sexta-feira, 30 de julho de 2010

Eu só sou.

eu não sou muita coisa,
não sou muitos seres,
não sou muitas cores,
mas eu sou?

eu sou pedra no seu sapato,
sou dinheiro perdido achado no bolso da calça velha,
eu sou o mosquito zumbizando no seu ouvido
- sem deixar você dormir!
eu sou?

eu sou picada de muriçoca em baixo do seu pé,
eu sou a nuvem tapando a lua que você quer tanto ver, (rá!)
eu sou.

sou o gole amargo do seu café sem açúcar,
sou sua manhã chata de segunda feira,
eu sou.

eu sou só de uma cor,
uma coisa só,
um ser só,
eu sou só eu!

sábado, 24 de julho de 2010

Quando eu encontrei meu primeiro fio de cabelo branco

Meu cabelo [
representa minha postura ante o capitalismo
- da raiz às pontas.

representa minha visão política
- centro-esquerda, com alguns fios rebeldes.

representa meu modo de encarar a dor
- enganando, disfarçando, abafando, reprimindo.

] E meu cabelo é contido, é controlado. Ele não tem liberdade de expressão, força de voto, consciência ambiental, nem é vegetariano.

Meu cabelo vê TV todos os dias, se comove com os sensacionalismos criador por ela; ele gosta de assistir novela, e "às oito" bate o ponto frente à tela.

Meu cabelo tem altas taxas de glicose, colesterol. Ele se alimenta de fast-food todos os dias.

E não é cult, nem alternativo, nem regueiro; ele foi tomado pela nova onda e é popeiro, gagueiro, nxzeiro.

Meu cabelo não critica ou segue a modinha dos contra-modinha. Ele simplesmente segue, sobrevive e existe - dia após dia.
(...)

E quando eu vi o meu primeiro fio de cabelo branco, percebi:  enfraquecimento e envelhecimento de tudo aquilo que ele um dia representou - ou desejou representar. Mas não o desaparecimento dos desejos. Afinal, ele - o fio - continua lá.

"Nem toda arte é um dom. Nem todo voto é secreto. 
Nem todo amigo é discreto. Nem todo batuque é samba."
Música: Vagabundo, por Ney Matogrosso e Pedro Luís e a Parede
Letra: Antonio Saraiva