Era um lugar bonito, aparentemente organizado. Com tudo no seu devido lugar. Flores pelos cantos, cheiro de lavanda pelo ar. Havia muitas, muitas pessoas mas estas se portavam de um modo que não tiravam a beleza nem o brilhantismo daquele espaço tão singular. Era a primeira vez que eu espiava aquele recinto. Comecei a reparar por algum tempo.
Observei que pela manhã sempre apareciam 2 adultos e uma criança. Um homem, uma mulher e um menino. Sempre felizes. Pelo decorrer do dia apareciam alguns jovens, rapazes e moças, alegres e falantes. Vez ou outra aparecia um rapaz que, pela sua forma tão galante, aparentava ser especial. À noite, antes que se apagassem as luzes, mais uma vez o homem, a mulher e o menino apareciam. Entretanto, com eles vinham também poucos dos jovens que surgiram pelo longo do dia, mais alguns outros que, ao que me parece, eram da família. Fui embora. Eu tinha afazeres e eu não poderia ficar ali espiando pelo resto da vida.
Após um longo tempo sem nunca mais ter ido àquele local tão peculiar, veio a mim uma vontade imensa e uma curiosidade sem fronteiras: resolvi voltar.
A janela dessa vez estava quebrada e, uma surpresa: o recinto estava uma bagunça. Algumas luzes quebradas, pouca gente andava por lá. Às vezes aconteciam algumas discussões, só uma coisa não mudava: o homem, a mulher, o menino e alguns poucos da família sempre visitavam à noite e iam embora ao apagar do restante das poucas luzes.
E vi que pouco a pouco algumas lâmpadas iam queimando e menos gente ia aparecendo por lá... O lugar estava ficando deplorável, cada vez mais desorganizado. O pior: sempre vinha alguém disposto a ajudar a bagunçá-lo.
Perceberam que eu estava lá à espreita, observando. A dona do lugar indagou-me, perguntando por que eu só permanecia distante e não entrava, pois ela estava precisando de uma mãozinha. Cheguei a conclusão, porém, que não iria adentrar e interferir. Iria esperar alguém pra me acompanhar, entrar lá comigo - e ajudar a organizar toda aquela confusão.
Triste mania a minha de viver espionando meu coração.