quinta-feira, 11 de junho de 2009

Mais um enigma de fim de tarde.

Era mais um fim de tarde. Um fim de tarde de domingo. E lá estava ela: do mesmo jeito, com o mesmo tipo de roupa, o mesmo cabelo. O sol já estava se pondo, e nos fins de tarde de domingo ela amava ver o pôr-de-sol. E assim foi.

Era mais um fim de tarde, e lá estava a moça. Sentada, a sentir a suave brisa dele, o grandioso e belo mar. Estava lindo, e às vezes ela até o via dourado pelos reflexos do majestoso sol que se recolhia depois de mais um dia de trabalho. A moça adorava sentar na areia e passar por todas aquelas sensações. Acabou a tarde, ela levantava. Sacodia a areia do
short, retornava à casa.

E assim seguia por tempos e tempos. A moça se arrastava pelos dias da semana, e esperava ansiosamente por aquele domingo maravilhoso, e por aquele fim de tarde.

E eu, na minha intensa curiosidade causada por aquele costume peculiar - que mais parecia um ritual -, inventei de perguntar a moça o porquê daquela obsessão pelos fins de tarde de domingo. Obtive a resposta. Eu nunca pensei que a bendita resposta pudesse ser algo tão forte como a recebida. A moça simplesmente me falou:

"Veja bem, eu sou só no mundo. Eu vivo só. Eu estudo, eu ando, eu como, eu durmo. Eu somente passo pelos dias. Sei que você vai me perguntar por que eu não saio, ou me divirto. Acontece que não sou eu quem decide quais pessoas vão surgir na minha vida - ou sumir dela. Eu tenho amigos, e de conveniência ou não, eu até me divirto com eles. Mas o que me acomete é algo mais forte do que isso. Independentemente de eu estar rodeada de pessoas, ou não, às vezes eu me sinto extremamente só. Eu não sei o que falta. Por isso eu venho aqui nos domingos, ao final da tarde. Porque tenho certeza que sempre, sempre, sempre o sol ou o mar vão estar me esperando. Vão confiar em mim, vão me olhar. E isso vai ser recíproco. E isso me deixa feliz."

Já passava do fim da tarde e após isso recolhi-me, e entendi que as coisas simples e naturalmente acontecem na nossa vida. Sem desesperos, sem agonia. Vou passar um tempinho sem me perguntar o porquê da minha afeição por "pôres-de-sol".


Oculto.

"Há uma máquina que nunca escreve cartas.
Há uma garrafa de tinta que nunca bebeu álcool."
João Cabral de Melo Neto.

"
Mas, veja bem… humano nenhum vive bem sozinho. Não estou dizendo que precisamos de outras pessoas pra 'dar o pezinho' enquanto subimos num coqueiro e pegamos nossa fonte de nutrição. Digo que ter outra pessoa pra conversar e compartilhar seja lá o que for, desde segredos a idéias, é necessário."
Giuliano Marley, Atestado pedante.

9 comentários:

  1. […]
    Atpn taet edde soa, girl! Quase chorei…


    …pelo airoso conto… e que resposta da moça!
    …por me lembrar de quando fui ao Recife, onde me sentei sozinho (novidade!) numa pedra, frente ao mar, ouvindo o som acalentador do mar enquanto murmurava "Vento no Litoral" …onde eu tinha conhecido… uma pessoa.
    …por minhas palavras terem virado citação.
    …por toda essa solidão à qual evito conversar (não evito… é que ainda não encontrei alguém que converse comigo sem que, depois, use o que eu disse contra mim).

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  2. 68,32% do meu ser se viu nesse enigma…

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  3. Adorei o texto!
    Ainda consegui relacioná-lo com o meu "Os estranhos do caminho" e com o que você recomendou que eu lesse. Minha cabeça está pensando um monte de coisas que eu não consigo organizar.

    "Acontece que não sou eu quem decide quais pessoas vão surgir na minha vida - ou sumir dela."
    Essa parte fez doer, sei bem o que é isso. Já tive quatro grandes "perdas" sistemáticas, aliás, uma única, a que mais faz doer e eu temo que nunca sare. As outras três são a minha certeza de que alguns sentimentos não medem distância.

    obs: nada disso se refere à morte. ou em um sentido mais literário, trata-se da maior delas. enfim, estou viajando muito. e você não errou no meu texto! o problema maior é que acho que meu período fechado passou, só que a porta e as janelas estão emperradas. :~~

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  4. Ah! eu adoro o mar! Pra mim é um dos maiores mistérios da vida.

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  5. Que resposta!
    Era a que eu procurava nos lugares que eu nunca fui.

    Sempre há um pedaço daqui em seus textos.

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  6. expliquei lá! olhaaa! hahaha

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  7. Ah, que bom que vc gostou. obrigada.:)
    pode passar mais vezes pra comentar, criticar, opinar ou qualquer coisa assim.

    E,ah,li alguns textos do teu blog e gostei bastante da simplicidade e do sentimento. Me identifiquei com essa moça que sempre vai ver o mar ;/

    Até mais.
    :)

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  8. Sol e Mar acompanhados nos remete solidão. Pois ainda que vistos a dois, esses dois se tornam um.

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  9. Que resposta!!! =D

    Mas tão triste, tão conformista... =(
    Compartilhar e conversar com o sol e o mar...?

    Talvez eu seja desesperado e agoniado por dentro.

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