terça-feira, 24 de novembro de 2009

[Das cartas] "Adeus."


Madrid, 27 de março de 1995.

Olá, querido.

Podes perceber que eu não estou ao teu lado esta manhã; em contrapartida, deixo minha voz, aqui, para que possas saber o motivo de minha ausência.

Não te assustes, estou apenas adiantando todo esse processo e tentando suprimir algum sofrimento que possa ocorrer. Banha-te, veste tua roupa e desce. Tua mala já está ao lado da escada, podes ir embora.

É verdade, é fato. Não adianta mais insistirmos e tentar encontrar algum fio de amor perdido na nossa casa. Eu até já procurei; na cozinha, lembrando dos nossos divertidos almoços; na sala, recordando dos nossos filmes, das noites em volta dos nossos livros, ou da tua viola. Procurei na nossa varanda, olhando para a cidade e lembrando das nossas caminhadas, nossas aventuras joviais, de como nós nos pertencíamos. No nosso quarto, pensando nas noites e dias em que estive ao teu lado.

Contudo, tudo que encontrei, e tudo que restou, foram as discussões na cozinha, as noites escuras na sala e a cidade: parada, sombria, só - nós já não nos pertencemos. No nosso quarto só estava eu; e eu já não sabia - já não sei - onde você estava.

Juro, procurei por um único fio de amor, mas parece que eles foram varridos pelo vento, e não sobrou nenhum.

Fui fazer umas compras. Espero que me entendas. Pega tua mala, ao lado das escadas, e parte para um lugar melhor. Onde possas, finalmente, encontrar alguém melhor que eu.

Com carinho, adeus,

Lucía.

"E tudo leva à queda.
Que mundo silencioso ao final.
Das coisas que você supôs, virá...
Que momento isso foi, afinal?"
Tradução: La llorona, by Beirut.

6 comentários:

  1. Porra, deixe-me procurar palavras pra expressar o quão espetacular foi esse texto.

    […]

    Ahhh--

    Não sei. Não mesmo. Lindo em sua simplicidade. O pé-na-bunda mais saboroso que meus olhos jamais comeram.

    Estupendo! Que jeito mais gracioso de se escrever. Fiquei embevecido--

    Desculpe, sem palavras. (!!!)

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  2. Sua criatividade é asssustadoramentre maluca e incrivelmente viciante

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  3. Oi Linda, Gostei de etr te encontrado. prazer viu..

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  4. "Contudo, tudo que encontrei, e tudo que restou, foram as discussões na cozinha, as noites escuras na sala e a cidade: parada, sombria, só - nós já não nos pertencemos. No nosso quarto só estava eu; e eu já não sabia - já não sei - onde você estava."

    ADOREI essa parte!
    Essa tua idéia das cartas, é genial!

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  5. fiquei deprimida com o texto e ao mesmo tempo achei do caralho essa tal coragem

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  6. ô Vanessa,
    seus textos como sempre daquela maneira,quando quando a gente termina suspira e pensa como é por isso isso que é tão bom ler.

    Que saudades de você amiga,saiba que sempre penso em ti,e me penso que você deve estar escutando música,escrevendo ou fazendo uns cálculos.Eu sei é um jeito de me ver mais perto de ti.

    Um Beiijo ;)

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