terça-feira, 8 de dezembro de 2009

[Das cartas] Parto.


Bordeaux, 24 de novembro de 1999.

Bom dia, Mãe.

Não sei se você já pôde conferir, mas o meu guarda-roupas tem alguns itens a menos. Estou indo. Não podia deixar, contudo, de dizer 'adeus'. Quero que saiba que você sempre foi uma grande conselheira; todo esse tempo eu não poderia ter tido uma mãe melhor. Mas acontece que eu não posso mais decidir somente por mim.

Você não o conhece bem, ele é jovem. É bonito, acredito. Nos conhecemos há 3 meses e... E... Eu não pude, eu não posso evitar esta paixão que agora já tomou conta de tudo. Sabe aquelas horas em que nós não agimos somente por nós? É por isso que parto; temos que encontrar um lugar para viver, não posso ficar longe dele sequer um segundo. Nós, quer dizer... Eu, eu já decidi.

Vamos para Paris, talvez lá eu encontre um bom trabalho. O pai dele me disse que lá nós poderíamos ter boas oportunidades. Mas ele não vêm conosco... Você bem que me dizia que a vida não era fácil.

(...)

Ufa, agora que já desabafei... Mãe, já são 3 meses! Três meses, e eu realmente não posso esconder mais. Já está crescendo. Levei alguns pertences mas uma mala ainda está abaixo da escada - nela estão fotos nossas. Se você aceitar enfrentar essa fase comigo, ao meu lado, como sempre fez em toda a vida, ligue para o telefone anotado em cima da mala. Caso contrário, amanhã estou a caminho de Paris.

Desculpe-me, eu sei que não foi a melhor escolha. Nem a atitude mais sábia. Eu poderia ter me cuidado. Mas agora é tarde. E já não há mais como recorrer.

Au revoir,

Adeline.




"Ninguém disse que era fácil...
É mesmo uma pena nós nos separarmos.
Ninguém disse que era fácil... mas
Ninguém nunca disse que seria tão difícil."
The Scientist, by Coldplay.


"Esclarescimentos acerca das cartas:

pessoal, eu não sou medium. Para mim, é indiferente falar com os espíritos. Nem estou copiando essas cartas de nenhum lugar. Eu nunca estive na Europa, nunca fugi de casa, nunca dei um 'pé na bunda' clássico como o que eu escrevi, e muito menos estou (nem estive) grávida! Relevem meus 'eus poéticos'. =)

É verdade: eu escuto muita música. Muita mesmo. E por uns dias atrás estive bastante inspirada, sobre vários assuntos - vááários. É isso. Quem quiser saber minha fonte de inspiração ouça Beirut, Fanfarlo, Arctic Monkeys, Mando Diao, The Corrs, Muse... De - quase - tudo!

Beijinhos!"

2 comentários:

  1. Mais um texto lindo, Vanessa. Lindo, lindo, lindo, do tipo que fez o coração de um cara-durão bater mais forte e mais devagar ao mesmo tempo.

    Que emocionante! Essas cartas são o ápice de sua inspiração, acho. Nunca a vi - literalmente, inclusive, talvez - tão inspirada.

    Lamento não poder seguir essas dicas musicais (não há tempo, não há tempo [/whiterabbit]), mas parece mesmo que elas a inspiram.

    Haverá quem discorde de mim, mas o estilo literário (não o conteúdo) é semelhante a Jostein Gaarder. Se essas cartas fossem livros, com certeza os leria em tempo recorde (leio livros devagarinho). Ficaria horas e horas me deliciando, apreciando esse mundo criado por você.

    Quem sou eu pra dizer isso, mas se eu fosse alguém diria: parabéns.

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  2. Eu, um dia, lerei "O mundo de Sofia".

    Giuliano, teus comentários são sempre superiores aos textos.

    =)

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